Agente duplo convenceu os alemães de que o desembarque aliado ocorreria bem longe da Normandia
Em janeiro de 1944, o serviço de inteligência alemão informou a um de seus agentes em solo britânico, de codinome Arabal, que os Aliados estavam preparando uma invasão de grandes proporções no continente europeu, e que contava com ele para obter informações sobre os detalhes do plano secreto. O que os alemães sequer desconfiavam era que o espanhol Juan Pujol Carcía, seu nome real, era um agente duplo que preparava para o Dia D seu maior golpe contra os nazistas.
Conhecido como Garbo no serviço secreto britânico, o pequeno homem - nascido em Barcelona, em 1912, e que havia lutado na Guerra Civil Espanhola - tinha aversão a regimes totalitários. Quando a Segunda Guerra eclodiu, decidiu que iria dar sua contribuição "para o bem da humanidade", como ele mesmo definiu.
Inicialmente, procurou as autoridades britânicas e ofereceu-se para espionar contra a Alemanha, mas não obteve sucesso ao tentar acesso às embaixadas do Reino Unido em Madri e Lisboa. Mas ele persistiu em seu intento e ofereceu-se à inteligência alemã, na capital espanhola, para ser um agente a serviço do nazismo em Londres. Persuadindo as autoridades com a história de que seria um abnegado defensor dos ideais de Hitler, acabou ganhando a confiança dos alemães e foi incumbido de criar uma rede de espiões em solo britânico.
Em vez de viajar para a Inglaterra, Garbo mudou-se da Espanha para Lisboa e começou a montar sua intrincada armadilha, simulando mandar infirmações dos Aliados a partir de 27 agentes criados por sua imaginação e utilizando alguns ivros de referência sobre o Reino Unido, como um guia, um mapa e algumas revistas de uma biblioteca portuguesa. Sua sagacidade ao se reportar aos alemães a partir de informações de conhecimento público, supostamente enviadas por Londres, teria sido o segredo de seu sucesso. Nem por isso deixou de cometer algumas gafes, que, para sua sorte, passaram despercebidas aos alemães. A mais famosa delas foi ter escrito que, durante uma visita a Glasgow, ele deparou com homens capazes de "fazer qualquer coisa por um litro de vinho", demostrando desconhecer totalmente os hábitos dos escoceses.
Operação Fortitude
Apesar de realmente existir um plano de invasão da Europa ocupada - a operação Overlod -, o que os alemães ignoravam é que parte do projeto incluía um esquema específico para ludibriá-los, a operação Fortitude. O plano dos Aliados para enganar os nazistas consistia em enviar pistas falsas, principalmente por meio de Garbo e sua rede fictícia de espiões, que convencessem o Alto-Comando alemão de que americanos e britânicos concretizariam sua maior ofensiva ao norte da Normandia, mais especificamente em Pas-de-Calais, bem longe das áreas efetivamente escolhidas para a invasão.
O ponto central do esquema consistia em fazer crer na existência de um exército "fantasma" dos Estados Unidos, que seria composto por 11 divisões fictícias, sob o comando do general Geroge Patton, e que estariam prestes a entrar em ação a partir de Kent e Essex, no sudeste da Inglaterra. O agente duplo conseguiu se sair tão bem na missão que até mesmo convenceu os nazistas de que a invasão da Normandia teria sido um mero estratagema para o "verdadeiro Dia D" que estaria por vir, barrando o envio dos reforços alemães psicionados a centenas de quilômetros das praias de Omaha, Utah, Juno, Gold e Sword.
Fonte: Revista Grandes Guerras - Edição 30 - Agosto 2009
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